Existe a ideia errônea de que os maus-tratos em crianças e adolescentes ocorrem
apenas em família social e economicamente desfavorecidas. Outra ideia é que maus-tratos são apenas não
provê o mínimo necessário para a criança, abandoná-la ou feri-la fisicamente. Outra ideia errada.
Existem diversas formas de maus-tratos, estes podem ser verbais, físicos
e até psicológicos. Este último, tão danoso quanto os demais, porém
menos visto, mais difícil de vir a público, mais difícil de se prevê e de se punir, talvez pela lacuna existente no Código Penal Brasileiro que trata os danos à saúde apenas como “lesões corporais” e a violência psicológica não mostra lesão alguma no corpo.
Tão danoso quanto o abuso sexual, é a violência psicológica (a violência sexual
além dos danos físicos, causam mal psíquicos também), muitas vezes expressa
através
de uma “doçura” maquiada de chantagem afetiva que impõe vontades ou proibições à criança dizendo que isso ou aquilo é “para o seu bem”, ou porque sua atitude é muito “feia” e lhe fará “grande mal”.
de uma “doçura” maquiada de chantagem afetiva que impõe vontades ou proibições à criança dizendo que isso ou aquilo é “para o seu bem”, ou porque sua atitude é muito “feia” e lhe fará “grande mal”.
Chantagens do tipo: “se você não vier (ou
fazer isso ou aquilo, ou deixar de fazer isso ou aquilo), eu vou deixar você só”,
ou “se você não vier comigo, não gosto mais de você”, “se você não parar agora
eu não venho mais pra casa”, "eu vou falar pra seu pai e você vai ver o que ele vai fazer", etc. Estas formas de violência psicológica revelam
uma impotência dos pais. Essas e outras falas configura humilhação, e pais que
assim agem negam-se a si mesmos enquanto pais (ou quem exercer tal papel no âmbito familiar como, p.ex.:
pais adotivos, padrastos, madrastas).
Ameaças de abandono também podem tornar uma criança medrosa e ansiosa,
representando formas de sofrimento psicológico. Tal atitude pode-se
nominar de “tortura psicológica” e pais que agem desta forma, causam o bloqueio
dos esforços de auto-aceitação da criança, causando-lhe grande sofrimento
mental.
A culpabilidade e a insegurança que
fora plantada na criança fará desta um adulto inseguro, muitas vezes incapaz de
amar a si mesmo e aos próprios filhos.
Com as
chantagens, a criança vai achar que corre risco de perder o amor dos pais, ou
sua presença a qualquer momento, e isso fará com que esta, mais tarde demonstre
agressividade, dificuldade no aprendizado, dificuldade nos relacionamentos, dificuldades
de fala ou linguagem, rebeldia, timidez, ausência de contato
olho-a-olho
e um enorme sentimento de culpa como consequência dos maus-tratos sofridos.
Esse tipo de violência esmaga a
criança e faz com que esta não consiga encontrar o seu lugar no seio familiar.
Em meio a essa confusão ela tenta autodestruir-se, não conseguindo organizar
seus pensamentos, suas atitudes, seus desejos.
O psicólogo, escritor é doutor em Neurociência e Comportamento pela USP,
Dr. Júlio Peres classifica tais pais que agridem seus filhos desta forma como “pais
tóxicos”. Segundo ele, tal atitude causará na criança sequelas que podem se
arrastar por toda a vida.
E mesmo quando os pais alternam atitudes carinhosas e agressivas, o
reflexo no desenvolvimento dos filhos ainda será negativo.
O professor Paulo Sérgio Pinheiro
em matéria para a ONU disse que as marcas físicas, emocionais e psicológicas da violência podem ter
sérias implicações no desenvolvimento da criança, na sua saúde e capacidade de
aprendizagem. Para ele, de acordo com alguns estudos, o fato de a criança ter
sofrido atos de violência na infância está relacionado com comportamentos de
risco no futuro, tais como o consumo de tabaco, o abuso de álcool e drogas, inatividade
física e obesidade, e estes comportamentos contribuem para algumas das principais
causas de doença e de morte por depressão, suicídio e problemas cardiovasculares.
Estudos revelam que é nos
primeiros anos de vida que cada pessoa forma a imagem de si mesma. Se a criança
sofre algum tipo de violência psicológica, ela irá desenvolver medos que serão
refletidos de várias formas, tais como: isolamento, agressividade, pesadelos à
noite, diminuição do rendimento escolar, tristeza sem razão aparente,
transtornos psicossomáticos, dores sem diagnóstico médico, perca de apetite, baixa
estima, ansiedade, etc.
A criança que sofre esse
tipo de agressão será agressor da mesma forma na idade adulta.
Para o Dr. Peres, para que a criança, o adolescente ou mesmo o adulto
possa ter uma vida mais saudável é necessário tratar as sequelas das
humilhações e dos maus-tratos que estes sofreram.
Maltratar em quaisquer forma, é sempre um abuso do poder do mais forte contra o mais
fraco.
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