quarta-feira, 26 de junho de 2013

"Pais tóxicos" - Violência Psicológica contra Crianças e Adolescentes

Existe a ideia errônea de que os maus-tratos em crianças e adolescentes ocorrem apenas em família social e economicamente desfavorecidas.  Outra ideia é que maus-tratos são apenas não provê o mínimo necessário para a criança, abandoná-la ou feri-la fisicamente. Outra ideia errada.

Existem diversas formas de maus-tratos, estes podem ser verbais, físicos e até psicológicos. Este último, tão danoso quanto os demais, porém menos visto, mais difícil de vir a público, mais difícil de se prevê e de se punir, talvez pela lacuna existente no Código Penal Brasileiro que trata os danos à saúde apenas como “lesões corporais” e a violência psicológica não mostra lesão alguma no corpo. 

Tão danoso quanto o abuso sexual, é a violência psicológica (a violência sexual além dos danos físicos, causam mal psíquicos também), muitas vezes expressa através
de uma “doçura” maquiada de chantagem afetiva que impõe vontades ou proibições à criança dizendo que isso ou aquilo é “para o seu bem”, ou porque sua atitude é muito “feia” e lhe fará “grande mal”.

Chantagens do tipo: “se você não vier (ou fazer isso ou aquilo, ou deixar de fazer isso ou aquilo), eu vou deixar você só”, ou “se você não vier comigo, não gosto mais de você”, “se você não parar agora eu não venho mais pra casa”, "eu vou falar pra seu pai e você vai ver o que ele vai fazer", etc. Estas formas de violência psicológica revelam uma impotência dos pais. Essas e outras falas configura humilhação, e pais que assim agem negam-se a si mesmos enquanto pais (ou quem exercer tal papel no âmbito familiar como, p.ex.: pais adotivos, padrastos, madrastas).

Ameaças de abandono também podem tornar uma criança medrosa e ansiosa, representando formas de sofrimento psicológico. Tal atitude pode-se nominar de “tortura psicológica” e pais que agem desta forma, causam o bloqueio dos esforços de auto-aceitação da criança, causando-lhe grande sofrimento mental.

A culpabilidade e a insegurança que fora plantada na criança fará desta um adulto inseguro, muitas vezes incapaz de amar a si mesmo e aos próprios filhos.

Com as chantagens, a criança vai achar que corre risco de perder o amor dos pais, ou sua presença a qualquer momento, e isso fará com que esta, mais tarde demonstre agressividade, dificuldade no aprendizado, dificuldade nos relacionamentos, dificuldades de fala ou linguagem, rebeldia, timidez, ausência de contato olho-a-olho e um enorme sentimento de culpa como consequência dos maus-tratos sofridos.

Esse tipo de violência esmaga a criança e faz com que esta não consiga encontrar o seu lugar no seio familiar. Em meio a essa confusão ela tenta autodestruir-se, não conseguindo organizar seus pensamentos, suas atitudes, seus desejos.

O psicólogo, escritor é doutor em Neurociência e Comportamento pela USP, Dr. Júlio Peres classifica tais pais que agridem seus filhos desta forma como “pais tóxicos”. Segundo ele, tal atitude causará na criança sequelas que podem se arrastar por toda a vida.

E mesmo quando os pais alternam atitudes carinhosas e agressivas, o reflexo no desenvolvimento dos filhos ainda será negativo. 

O professor Paulo Sérgio Pinheiro em matéria para a ONU disse que as marcas físicas, emocionais e psicológicas da violência podem ter sérias implicações no desenvolvimento da criança, na sua saúde e capacidade de aprendizagem. Para ele, de acordo com alguns estudos, o fato de a criança ter sofrido atos de violência na infância está relacionado com comportamentos de risco no futuro, tais como o consumo de tabaco, o abuso de álcool e drogas, inatividade física e obesidade, e estes comportamentos contribuem para algumas das principais causas de doença e de morte por depressão, suicídio e problemas cardiovasculares.

Estudos revelam que é nos primeiros anos de vida que cada pessoa forma a imagem de si mesma. Se a criança sofre algum tipo de violência psicológica, ela irá desenvolver medos que serão refletidos de várias formas, tais como: isolamento, agressividade, pesadelos à noite, diminuição do rendimento escolar, tristeza sem razão aparente, transtornos psicossomáticos, dores sem diagnóstico médico, perca de apetite, baixa estima, ansiedade, etc.

A criança que sofre esse tipo de agressão será agressor da mesma forma na idade adulta.

Para o Dr. Peres, para que a criança, o adolescente ou mesmo o adulto possa ter uma vida mais saudável é necessário tratar as sequelas das humilhações e dos maus-tratos que estes sofreram.


 Maltratar em quaisquer forma, é sempre um abuso do poder do mais forte contra o mais fraco.

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