quinta-feira, 13 de junho de 2013

Carta Aberta à Enfermagem Paulista sobre a novela “Amor à Vida”


O Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo está ininterruptamente atento a qualquer produção jornalística, artística e cultural que possa de alguma forma denegrir de maneira injusta e/ou infundada a área da Enfermagem. Recentemente muitas reclamações têm sido feitas a este Conselho sobre a novela “Amor à Vida”, de autoria de Walcyr Carrasco e veiculada em horário nobre nas noites de segunda a sábado na TV Globo.
Em sintonia com boa parte das contestações apresentadas por enfermeiros, técnicos e auxiliares, a avaliação deste Regional é que a produção em questão está prestando um desserviço à Enfermagem, ao cidadão e à saúde pública. As intrigas marcantes em ambiente hospitalar, acompanhadas de sexismo, transformação da mulher em mero objeto, procedimentos tecnicamente incorretos e até condutas fora de preceitos éticos e legais têm diversos efeitos altamente negativos na formação da imagem da Enfermagem para o expectador.
Conforme a experiência histórica das entidades da Enfermagem brasileira, sempre que a mídia aborda técnicas, condutas e comportamentos de forma distorcida há um prejuízo imediato e direto à confiança do paciente nos profissionais. A assistência nos já complicados sistemas de saúde em todo o País é mais dificultada pelos efeitos da produção artístico-cultural realizada irresponsavelmente, mesmo que seja uma irresponsabilidade sem intenção de prejudicar. Também não se deve fechar os olhos para o fato da exacerbada sensualização da profissional, o que estimula as mentes menos favorecidas a constranger e/ou assediar sexualmente as mulheres da Enfermagem.
Quando se contesta dramaturgia como a apresentada em “Amor à Vida”, não se trata de mero corporativismo ou excesso de sensibilidade. É antes uma questão de combate à violência de gênero e ao preconceito de toda natureza. É zelo para com a assistência à população, a garantia de que o paciente não desconfie de trabalhadores de qualquer uma das 14 profissões da Saúde por antecipação, sugestionados por produções que se propõem fictícias, mas influenciam de imediato a realidade.
A teledramaturgia goza do direito à liberdade de manifestação artístico-cultural, independente de censura prévia, como assegura o inciso IX do artigo 5º da Constituição Federal. Este é um direito conquistado pelo povo brasileiro após décadas de luta contra a opressão política.
Da mesma forma, de acordo com o inciso VIII do artigo 15º da lei 5.905/73, os Conselhos Regionais de Enfermagem têm a obrigação, entre outros temas, de “zelar pelo bom conceito da profissão e dos que a exerçam”. No entanto, esta lei, que criou o sistema COFEN/CORENs, não se sobrepõe à Constituição Federal.
Portanto, os Conselhos Regionais não têm qualquer autoridade legal para proibir ou impedir previamente a veiculação de conteúdo artístico-cultural, mesmo que seja prejudicial à Enfermagem. Qualquer promessa neste sentido, ou defesa de teses de que o Conselho é sim o responsável pelas opções de um autor de novelas e da sua emissora de TV, tem fundamento em inverdades, quando não na má fé.
O Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo não deixará, contudo, de cumprir os seus deveres e dentro das possibilidades que a lei permite, sem discursos enganosos que apenas saciam os mais afoitos. O Departamento Jurídico do Conselho está estudando as formas possíveis, dentro da legalidade, para defender a Enfermagem das distorções presentes na novela “Amor à Vida”.
Este Conselho quer que a novela, assim como todas veiculações midiáticas, respeite os profissionais de Enfermagem e cumpra sua obrigação legal de oferecer conteúdo educativo e de enriquecimento cultural. É certo que preconceitos, distorções e o desrespeito são comuns na teledramaturgia brasileira, envolvendo muitos e diversos grupos de pessoas. A Enfermagem é a vítima do momento, assim como outras profissões, regiões e cores já foram.
Participe
A resposta imediata possível e mais eficiente pode ser dada pelo controle remoto. Os índices de audiência são a linguagem prontamente compreendida pelas emissoras de TV. Se os mais de 1 millhão e 600 mil profissionais de Enfermagem (e por que não de toda a Saúde) se unirem e participarem de movimentos de seleção de programação em busca de avanços no nível da programação televisiva brasileira, dificilmente serão retratados novamente da maneira que ocorre na novela “Amor à Vida”.
Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo


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